segunda-feira, 6 de maio de 2013


PRIMEIRA-DAMA E OUTRAS OBSOLESCÊNCIAS
A sociedade e as empresas evoluem. Os termos mudam, as certezas arrefecem, as dúvidas aumentam e o conhecimento se alarga. A longevidade humana se amplia e os termos se tornam mais efêmeros. Novos surgem em seu lugar para explicar melhor (ou diferente). Mas algumas reminiscências permanecem como se fossem atuais. Tornam-se obsoletas, de significado pueril, mas continuam utilizadas.
No dia primeiro de janeiro, por exemplo, os novos prefeitos eleitos assumiram os respectivos paços municipais pelo país afora. Junto com eles fizeram-se presentes as esposas ou maridos. As primeiras-damas ou os primeiros-cavalheiros.
Correto está chama-los assim, mas não tem mais sentido. Os avanços do trabalho e da dinâmica política suplantaram essa necessidade eufemística criada em 1850. Já vai longe o tempo em que o cônjuge da autoridade não tinha ocupação significativa que pudesse ser utilizada para sua apresentação ou deferência. Até porque ele ou ela não são eleitos com seu cônjuge. Logo, é apenas exercício de gentileza formal, mas obsoleto.
Falando em política, não tem anda mais obsoleto na prática do que os antiquados significados de direita e esquerda que o tempo e os políticos trataram de embaralhar. Na essência deveriam ser fundamentais para definir as ações dos gestores e a própria decisão de escolha dos eleitores, mas boa parte disso ficou para trás. Aliás, ultimamente no Brasil as práticas de uns estão sendo utilizadas pelo outros.
No ambiente corporativo pouca gente chama o seu superior de chefe ou chefia. Empregado também está em desuso. Soam como grosseiros. Foram substituídos por líder, gestor, superior e por seu turno, colaborador ou no máximo funcionário (que funciona, como vi numa oferta de trabalho na vitrine de uma loja).
Algumas são engolidas pelos avanços tecnológicos. “Caiu a ficha” é um desses termos muito interessantes (alguns ainda o utilizam), mas completamente obsoleto. A moçada até pode saber o significado metafórico, mas se chamado a explicar a origem vai ter dificuldade. Aliás, poucos ainda se lembram ou utilizam os orelhões (eles próprios já estão obsoletos) o que dirá das tais fichas usadas neles antigamente.
No ambiente profissional os agora não muito famosos “bater máquina” ou datilografar então? Era o que um funcionário precisava saber para se tornar imprescindível. Um sujeito que soubesse bater máquina/datilografar com eficiência, há pouco mais de 20 anos, tinha emprego certo. Um verdadeiro expert em escrever com aquelas máquinas que não permitiam erros na hora de apertar a tecla das letras.
E não adianta fazer cara de “não é da minha época”, porque outro dia estava numa órgão público e um sujeito de meia-idade, com uma folha na mão, perguntou para a secretária: onde posso mandar bater isso? Ela ficou sem entender e, entre alguns risos disfarçados dos demais, outro atendente um pouco mais experiente orientou o incauto de que poderia digitá-lo numa empresa especializada, em frente.
Quem não entendeu o motivo, pode “voltar a fita”. Essa metáfora também é ótima como exemplo de gíria ultrapassada. Recomeçar para tentar entender a história.
Há também os termos que mudam de sentido ao longo do tempo e revelam a fugacidade, principalmente da fala. Bárbaro é um desses exemplos. Sempre associado à crueldade e selvageria, seu significado foi mudando nas últimas décadas e passou a definir algo surreal, belo, bem feito e espantoso. O significado antigo ficou obsoleto, a menos que sua utilização seja autoexplicativa em função do contexto.
A era digital deverá ser pródiga nesse sentido. Será que daqui a mais uns 20 anos alguém vai saber o significado do kkkkkkkkkk, por exemplo, utilizado a exaustão nas redes sociais? Também deverá vir acrescido de uma legenda para ser entendido.
A própria escrita cursiva está por um fio. Corre o risco de se tornar obsoleta daqui a pouco tempo. Alguns estados americanos as crianças já não aprendem mais a escrever com lápis e papel, apenas digitam. E aqui nós ainda temos de nos preocupar com o novo e esdrúxulo acordo ortográfico. Aquele que, à exceção das editoras, ninguém mais sabe explicar os benefícios.
Já pensaram se os estadunidenses resolvessem ditar aos demais, inclusive os britânicos, um acordo ortográfico da língua inglesa? Antes seria declarada a terceira guerra mundial.
Boa semana de Gestão & Negócios.

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