PRIMEIRA-DAMA
E OUTRAS OBSOLESCÊNCIAS
A sociedade e as
empresas evoluem. Os termos mudam, as certezas arrefecem, as dúvidas aumentam e
o conhecimento se alarga. A longevidade humana se amplia e os termos se tornam
mais efêmeros. Novos surgem em seu lugar para explicar melhor (ou diferente).
Mas algumas reminiscências permanecem como se fossem atuais. Tornam-se
obsoletas, de significado pueril, mas continuam utilizadas.
No dia primeiro de
janeiro, por exemplo, os novos prefeitos eleitos assumiram os respectivos paços
municipais pelo país afora. Junto com eles fizeram-se presentes as esposas ou
maridos. As primeiras-damas ou os primeiros-cavalheiros.
Correto está
chama-los assim, mas não tem mais sentido. Os avanços do trabalho e da dinâmica
política suplantaram essa necessidade eufemística criada em 1850. Já vai longe
o tempo em que o cônjuge da autoridade não tinha ocupação significativa que pudesse
ser utilizada para sua apresentação ou deferência. Até porque ele ou ela não
são eleitos com seu cônjuge. Logo, é apenas exercício de gentileza formal, mas
obsoleto.
Falando em política,
não tem anda mais obsoleto na prática do que os antiquados significados de direita
e esquerda que o tempo e os políticos trataram de embaralhar. Na essência deveriam
ser fundamentais para definir as ações dos gestores e a própria decisão de
escolha dos eleitores, mas boa parte disso ficou para trás. Aliás, ultimamente
no Brasil as práticas de uns estão sendo utilizadas pelo outros.
No ambiente
corporativo pouca gente chama o seu superior de chefe ou chefia. Empregado
também está em desuso. Soam como grosseiros. Foram substituídos por líder,
gestor, superior e por seu turno, colaborador ou no máximo funcionário (que
funciona, como vi numa oferta de trabalho na vitrine de uma loja).
Algumas são engolidas
pelos avanços tecnológicos. “Caiu a ficha” é um desses termos muito
interessantes (alguns ainda o utilizam), mas completamente obsoleto. A moçada
até pode saber o significado metafórico, mas se chamado a explicar a origem vai
ter dificuldade. Aliás, poucos ainda se lembram ou utilizam os orelhões (eles
próprios já estão obsoletos) o que dirá das tais fichas usadas neles
antigamente.
No ambiente profissional
os agora não muito famosos “bater máquina” ou datilografar então? Era o que um
funcionário precisava saber para se tornar imprescindível. Um sujeito que
soubesse bater máquina/datilografar com eficiência, há pouco mais de 20 anos, tinha
emprego certo. Um verdadeiro expert em escrever com aquelas máquinas que não
permitiam erros na hora de apertar a tecla das letras.
E não adianta fazer
cara de “não é da minha época”, porque outro dia estava numa órgão público e um
sujeito de meia-idade, com uma folha na mão, perguntou para a secretária: onde
posso mandar bater isso? Ela ficou sem entender e, entre alguns risos disfarçados
dos demais, outro atendente um pouco mais experiente orientou o incauto de que
poderia digitá-lo numa empresa especializada, em frente.
Quem não entendeu o
motivo, pode “voltar a fita”. Essa metáfora também é ótima como exemplo de
gíria ultrapassada. Recomeçar para tentar entender a história.
Há também os termos
que mudam de sentido ao longo do tempo e revelam a fugacidade, principalmente
da fala. Bárbaro é um desses exemplos. Sempre associado à crueldade e
selvageria, seu significado foi mudando nas últimas décadas e passou a definir
algo surreal, belo, bem feito e espantoso. O significado antigo ficou obsoleto,
a menos que sua utilização seja autoexplicativa em função do contexto.
A era digital deverá
ser pródiga nesse sentido. Será que daqui a mais uns 20 anos alguém vai saber o
significado do kkkkkkkkkk, por exemplo, utilizado a exaustão nas redes sociais?
Também deverá vir acrescido de uma legenda para ser entendido.
A própria escrita
cursiva está por um fio. Corre o risco de se tornar obsoleta daqui a pouco
tempo. Alguns estados americanos as crianças já não aprendem mais a escrever
com lápis e papel, apenas digitam. E aqui nós ainda temos de nos preocupar com
o novo e esdrúxulo acordo ortográfico. Aquele que, à exceção das editoras, ninguém
mais sabe explicar os benefícios.
Já pensaram se os estadunidenses
resolvessem ditar aos demais, inclusive os britânicos, um acordo ortográfico da
língua inglesa? Antes seria declarada a terceira guerra mundial.
Boa semana de Gestão & Negócios.
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